quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Tarde no parque - Parte 1.


   Identifiquei as vozes dos infantes e deixei a mente divagar pelos lugares pérfidos e lisonjeiros da minha alma semi-humana. Explicando na extrema sinceridade e simplicidade das palavras, as comparo com o coro dos querubins. Lembro destes entalhados nas vigas da cama de Helene e dos inúmeros que avistei no cemitério de minha cidade natal, o lugar ao qual jurei voltar a cada estação... Silêncio.
   Os olhos foram abertos e a claridade do céu os feriu, deixando que as pupilas se acostumassem com o novo jogo de luz. Levantei-me do banco quando vi que um segundo alguém vinha em minha direção, decerto com o intuito de ocupar o restante do assento. Era pequeno em demasia para nós dois, pensei assim de imediato. Mas mentia; um dos meus muitos vícios – primeira nota. Ele desviou de mim, nem ao menos fitou-me.
   Minhas íris de um castanho designado na Alemanha nazista como perigoso, vagaram pela imensidão falsa do parque. Os balanços rangiam em uníssono aos risos constantes e preenchiam os meus ouvidos. Observei uma mãe dirigir-se ao filho de meia dúzia de anos incompletos e investir-lhe um gorro à cabeça. A criança relutou, obviamente, mas fora enfraquecida pela persistência da jovem senhora. Gosto de antíteses – segunda nota. E ainda mais do poder de escolha.
   Senti pares de olhos sobre o tecido da vestimenta, algo que encaro como costumeiro. Não me julgo o estereótipo mais adequado para as mentes doentias das mães. Estaria eu a escolher qual a próxima vítima de minha teia de armações? Analisando e pronto a apontar o que mais recebera a minha atenção? Em casa teria uma câmera à espera? Não. Calma, minha doença é outra.

Luther Sturridge - Março 2009.
 

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