terça-feira, 9 de março de 2010

Filho, siga meus passos.


Esse ar artificial que toma conta das paredes, toda essa poluição visual que inunda as ruas, todas as musas que eu sorvo, os dados viciados que tenho na mesa; são apenas um mero resumo do caos. O caos que eu sempre desejei. Nunca me deixei levar pelo fracasso, pois este eu não conheço muito bem. E por mil noites me mantive fiel a ele, meu pai, selando minha promessa com o último fio de devoção que me restava. Mas agora, adeus. Consigo sentir o vento no rosto e o veneno acre na garganta. Agora sim, porei em prática tudo o que me fora ensinado. O berço de ouro e o mestre de lama serviram-me para algo. Eu dito as regras agora.

 "De tudo, ao meu amor serei atento" Não, sem toda essa falsidade de vassalos e suseranos passionais. De nada ao meu amor serei atento, pois o amor já fora morto e o indivíduo merecedor da minha atenção sou - unicamente - eu. Talvez eu seja tão mais insano do que os outros loucos, ao esperar por algo que somente a morte me dará...
Matarei então.

[ Stuart Wolf. ]

Um epitáfio.


Contos inacabados em ruas olvidadas.

Sussurros dissipados em bocas imundas.

Quimeras interrompidas por pessoas insones.

Orgias enfadonhas com algumas vagabundas.

                                  - Aqui jaz o jovem D'umarck,

Confidência.

      Sucumbi à penumbra de meus pesadelos, começando a acreditar que eu já não mais habito o corpo do homem que eu fora há... Quantos anos? Nem lembro mais. A noite murmura centenas de vezes o mesmo nome, em louvor a uma santa que não escuta. A minha santa venerada, a qual dedico o altar de minha sanidade e as velas do meu juízo. A mesma que se revela soberana, com as mãos untadas sob num véu da cor de seus olhos. Jades de minha perdição. Fogo a ressaltar-se enquanto o sol apodera-se de minhas mãos fazendo-as queimar. Queime os olhos também, deixe a fome correr aos ossos. Dance, pise, crave suas maledicentes garras em cima de mim.

   Os ponteiros estão a enganar-se ou os dias pregam-me peças. Mal me levantei e regressou o relógio à hora que deveria deitar-me. Um leito cheirando a morfina. Eu recuso. Apanho a capa das costas da cadeira, giro a maçaneta e escuto um ruído afrontar a morbidez do corredor. Ando horas a fio, deixo as lufadas maldosas agredirem a pele pálida. Toma conta de mim a estúpida ideia que voltar. Não para o quarto que me encadeia, mas a um lugar que guarda a origem de meus pecados.

   Quando dou por mim, estou parado. O suor escorre frio, calmo. A lua, tão longe lá no alto, ilumina uma parcela da paisagem. Esta me parecia tão bela antes, mas está vazia e triste. Um balanço range agudo com o vento do oeste e - por mecanismo, talvez – dou passo para frente. Não há ninguém. Folhas cobrem o que antes vieram a ser minhas tardes gloriosas. Onde deixava de me importar com os gritos de um ébrio para me diagnosticar são ao lado dela. Não estou bem, eu acho. Deixo cair-me ao tapete de folhas mortas e recém-orvalhadas. Toco o inferior do braço esquerdo pensativo. Eu quase sorrio, mas a vontade abandona-me.

Para Lily, sempre.

 

Made by Lena