Quando você cria uma personagem e dedica, ao menos, uma parcela de carinho e atenção a ela, é inevitável que esta torne-se parte de sua vida. Você será a partir do momento em que ela possuir um nome e características, um amigo oculto, porém presente, compartilhando de suas dores e exibindo sorrisos quando ela conseguir algo que tanto almejava. Quando criador e criatura tornam-se um só, uma música faz com que ela seja lembrada e suas palavras já se confundem com as dela. Viola desperta em mim tudo isso e muito mais. É com pesar que lembro que em histórias recentes ela já não está, mas com imensa alegria penso nela com seus quinze anos e seus vestidos floridos, os olhos muitos azuis e grandes a vasculhar a imensidão estelar.
Seus desenhos contando as histórias que nunca escreveu, seus mistérios guardados dentro de um livro, sua voz dizendo tímida o quanto gostava de não pertencer àquele mundo, o mundo real. Minha garotinha cresceu sendo a coisa mais importante do pai e a preciosidade da mãe. Nada no mundo poderia machucá-la, exceto o amor. Vivenciou as melhores aventuras ao lado de quem imaginou nunca enxergá-la, acompanhou uma banda de rock, foi contra tudo o que o pai sempre sonhou, experimentou uma vida diferente do que havia pensado. Amou verdadeiramente, feriu-se ao achar que foi em vão. Tornou-se mãe daquele que não havia vindo de seu ventre e esperou para que ele retornasse. E ele retornou. Viram o quanto havia sido errôneas suas escolhas.
Viveu intensamente o restante de dias com ele, sem contar com o destino infame. Anos se passaram sem que seu coração fosse de qualquer outro a não ser do filho. Anos e anos até que chegou o momento de seus olhos dormirem e não retornarem a abrir. Seus grandes e azuis olhos sonhadores, que ganharam uma mancha nevoada depois da partida dele. Agora uma eternidade para viver feliz.
Viola, parabéns e obrigada por tudo.