quarta-feira, 28 de julho de 2010

Incisão.

, Nuances de momentos vítreos de uma realidade ínfima que fala aos ouvidos, que perpassa jun-ta-men-te com as partículas de poeira que flutuam pelo ar - algo que me bloqueia a visão e compromete meus pulmões. Mortes lentas, o rosto lívido de perguntas, as mãos carentes dos afagos que nunca poderão ser realizados. A ecolália de pensamentos, o defeito de minha percepção, a fúria dos meus beijos. Meus olhos podem ser perniciosos, então, um aviso: nunca olhe diretamente para eles.

Ah, minha pequena dama que se perdeu de mim há muito. A tarde cálida engolindo os meus sentidos. O ar recusando-se a me manter consciente. Minha grande dor, que j a m a i s me deixará .

L
uther Sturridge
.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Obsessão.


Cedi-lhe a vassalagem dos prazeres; teus anseios eram deveres e tua única matrona era eu.

Neguei-lhe o beijo de despedida e por esta porta vil tu fostes e não regressastes.

A vida oculta, tão perdida. As palavras não ouvidas e a saliva de fel.

Neguei-lhe a permissão dos meus desejos. O doce dos meus dedos, a boca de rubi.

Tomei-lhe o estupor do pecado, que com agrado tranquei em um baú e por lá ficou.

Suguei-lhe a tarde de outono, o alvorecer dos anjos por simples vontade. Tirania e lealdade.

Momento de ócio - 05/05/09

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Lábios.


- Dedicado a Melchior. rs.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Viola Stella Alcott


Quando você cria uma personagem e dedica, ao menos, uma parcela de carinho e atenção a ela, é inevitável que esta torne-se parte de sua vida. Você será a partir do momento em que ela possuir um nome e características, um amigo oculto, porém presente, compartilhando de suas dores e exibindo sorrisos quando ela conseguir algo que tanto almejava. Quando criador e criatura tornam-se um só, uma música faz com que ela seja lembrada e suas palavras já se confundem com as dela. Viola desperta em mim tudo isso e muito mais. É com pesar que lembro que em histórias recentes ela já não está, mas com imensa alegria penso nela com seus quinze anos e seus vestidos floridos, os olhos muitos azuis e grandes a vasculhar a imensidão estelar.
Seus desenhos contando as histórias que nunca escreveu, seus mistérios guardados dentro de um livro, sua voz dizendo tímida o quanto gostava de não pertencer àquele mundo, o mundo real. Minha garotinha cresceu sendo a coisa mais importante do pai e a preciosidade da mãe. Nada no mundo poderia machucá-la, exceto o amor. Vivenciou as melhores aventuras ao lado de quem imaginou nunca enxergá-la, acompanhou uma banda de rock, foi contra tudo o que o pai sempre sonhou, experimentou uma vida diferente do que havia pensado. Amou verdadeiramente, feriu-se ao achar que foi em vão. Tornou-se mãe daquele que não havia vindo de seu ventre e esperou para que ele retornasse. E ele retornou. Viram o quanto havia sido errôneas suas escolhas.
Viveu intensamente o restante de dias com ele, sem contar com o destino infame. Anos se passaram sem que seu coração fosse de qualquer outro a não ser do filho. Anos e anos até que chegou o momento de seus olhos dormirem e não retornarem a abrir. Seus grandes e azuis olhos sonhadores, que ganharam uma mancha nevoada depois da partida dele. Agora uma eternidade para viver feliz.

Viola, parabéns e obrigada por tudo.

A primeira página.

domingo, 18 de abril de 2010

Diálogo breve.


— Anthony! Seus livros! — Timbre agudo. Imagem pueril.

Obrigado, Julia. — Sobressalto reprimido. Sorriso esboçado.

— Pra quê tantos? — Dúvida incoerente. Olhos pincelados.

Eu gosto deles. — Resposta vaga. Sinceridade espontânea.

— Por quê? — Descrença nítida. Sobrancelhas franzidas.

Porque eles não falam. — Pés ágeis. Livros seguros.

Pés vítreos.


Faço sempre as mesmas perguntas: como é ser real, normal, tocável? Estou aqui para escutar o que você tem a me dizer, estou ansiosa por suas palavras. (Diga-me!) Talvez eu viesse a gostar de sentir o toque, o calor da ponta dos dedos do amante, o formigar da pele sob a carícia, o aroma dos sentidos e a conhecer a graça das formas dos olhos teus. Mas não posso, uma vez que não me é permitido. Pois não existo, sou apenas uma fusão do fantasioso com o ilusório. Um traço delineado por mãos trabalhadas e esquecidas. (Um par de sapatilhas.) Uma poetisa morta, um pássaro ferido, uma moldura rompida. Um dia de outono e uma tarde de primavera, o luzir de uma lágrima sobre o contorno de lábios róseos.

Jazia no leito um corpo de vergaduras femininas. Cercado pelo fulgor de nuances de silêncio e musicalidade, arfava o colo à sua própria composição. O sono profundo a velar os olhos cerrados, a inspiração decaindo pelo ar graças às notas do piano que outrora soaram quiméricas, pois no térreo alguém parara de tocar. (Lástima.) Os tecidos de muitas cores tornaram-se pálidos, tudo no quarto parecia assemelhar-se àquilo, até mesmo as mãos imóveis sobre o papel – que tristonha coincidência – macilento. Os sonhos vieram e se foram, os timbres muito confusos entre as mudanças de cena e as órbitas saltadas das damas que rodopiavam faziam a sonhadora desejar abrir os olhos e ser resgatada do onírico. (Aversão aos sonhos.) Bastava a vida que respirava.

terça-feira, 9 de março de 2010

Filho, siga meus passos.


Esse ar artificial que toma conta das paredes, toda essa poluição visual que inunda as ruas, todas as musas que eu sorvo, os dados viciados que tenho na mesa; são apenas um mero resumo do caos. O caos que eu sempre desejei. Nunca me deixei levar pelo fracasso, pois este eu não conheço muito bem. E por mil noites me mantive fiel a ele, meu pai, selando minha promessa com o último fio de devoção que me restava. Mas agora, adeus. Consigo sentir o vento no rosto e o veneno acre na garganta. Agora sim, porei em prática tudo o que me fora ensinado. O berço de ouro e o mestre de lama serviram-me para algo. Eu dito as regras agora.

 "De tudo, ao meu amor serei atento" Não, sem toda essa falsidade de vassalos e suseranos passionais. De nada ao meu amor serei atento, pois o amor já fora morto e o indivíduo merecedor da minha atenção sou - unicamente - eu. Talvez eu seja tão mais insano do que os outros loucos, ao esperar por algo que somente a morte me dará...
Matarei então.

[ Stuart Wolf. ]

Um epitáfio.


Contos inacabados em ruas olvidadas.

Sussurros dissipados em bocas imundas.

Quimeras interrompidas por pessoas insones.

Orgias enfadonhas com algumas vagabundas.

                                  - Aqui jaz o jovem D'umarck,

Confidência.

      Sucumbi à penumbra de meus pesadelos, começando a acreditar que eu já não mais habito o corpo do homem que eu fora há... Quantos anos? Nem lembro mais. A noite murmura centenas de vezes o mesmo nome, em louvor a uma santa que não escuta. A minha santa venerada, a qual dedico o altar de minha sanidade e as velas do meu juízo. A mesma que se revela soberana, com as mãos untadas sob num véu da cor de seus olhos. Jades de minha perdição. Fogo a ressaltar-se enquanto o sol apodera-se de minhas mãos fazendo-as queimar. Queime os olhos também, deixe a fome correr aos ossos. Dance, pise, crave suas maledicentes garras em cima de mim.

   Os ponteiros estão a enganar-se ou os dias pregam-me peças. Mal me levantei e regressou o relógio à hora que deveria deitar-me. Um leito cheirando a morfina. Eu recuso. Apanho a capa das costas da cadeira, giro a maçaneta e escuto um ruído afrontar a morbidez do corredor. Ando horas a fio, deixo as lufadas maldosas agredirem a pele pálida. Toma conta de mim a estúpida ideia que voltar. Não para o quarto que me encadeia, mas a um lugar que guarda a origem de meus pecados.

   Quando dou por mim, estou parado. O suor escorre frio, calmo. A lua, tão longe lá no alto, ilumina uma parcela da paisagem. Esta me parecia tão bela antes, mas está vazia e triste. Um balanço range agudo com o vento do oeste e - por mecanismo, talvez – dou passo para frente. Não há ninguém. Folhas cobrem o que antes vieram a ser minhas tardes gloriosas. Onde deixava de me importar com os gritos de um ébrio para me diagnosticar são ao lado dela. Não estou bem, eu acho. Deixo cair-me ao tapete de folhas mortas e recém-orvalhadas. Toco o inferior do braço esquerdo pensativo. Eu quase sorrio, mas a vontade abandona-me.

Para Lily, sempre.

 

Made by Lena